Caminho

em quinta-feira, maio 20, 2010
Quase de madrugada ela andava de bicicleta. Estava indo de volta pra casa, finalmente. O dia fora cansativo, e a cabeça rodava, circulava, corria e se moía em pensamentos que, devaneantes, não levavam a lugar algum. As luzes passavam, refletidas no asfalto, já gasto, por tantos caminhos que tantos passaram sem saber onde iam. Ou, ainda, porque iam.
A neblina estava forte naquela noite. Mal se enxergava um palmo a frente do nariz. A cabeça dela também estava nebulosa. Não sabia o que pensar direito, nem se pensar faria alguma diferença. Tinha consciência já, que, dali pra frente, seriam as atitudes que mudariam os rumos da sua vida. Já dizia alguém famoso, ela constatou, que se você não sabe para onde vai, todos os caminhos levam a lugar nenhum.
A ideia era fugir dos pensamentos, ocupar a cabeça com eventos acadêmicos... E deixar o tempo rolar, as coisas acontecerem. Carregava consigo cicatrizes, não tão cicatrizadas assim, e bem visíveis.
Desceu a rua do cemitério, finalmente estava perto de casa. O vento perpassava congelante nos olhos, o nariz gelado, os dentes batendo de frio. O frio que sentia por dentro era muito maior. Não era mais aquele frio gostoso, que vinha quando o olhava. O frio agora era aquele da saudade, junto com a sensação de perda. O amor que vai se perdendo aos poucos, mas que fica guardado no coração.
Desceu da bicicleta e entrou em casa. Mas casa? Que casa? Queria poder, pelo menos em pensamento, amá-lo, e ser correspondida. Assim, ela se sentiria em casa em qualquer lugar.
Trancou o portão, respirou fundo e compreendeu: ainda tinha um caminho bem comprido pela frente.


Letícia Christmann

4 comentários:

Karol Coelho disse...

Lindo Lê!
Amo sua narrativa!
Já disse, né?

Esse frio de saudade dói.

Beijo.

Kenny Rogers disse...

Menina vc é boa viu, o frio da saudade só se cura com o calor de um grande amor.
Gosto muito desse blog, essas meninas são talentosas

Rebeca Postigo disse...

Lindissimo Lê!!!
Amei!!!

Bjs

Érica Ferro disse...

O caminho é longo, Lê. E tudo muda, sempre muda, muda muito.
Vai-se vivendo e vendo no que vai dando.

;*

 
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